EU SOU ISSO






LER-ME É UM DESAFIO AOS RAROS, DOS DEDICADOS EM NÃO APENAS LER, MAS RELER. ENTENDER-ME EXIGE ISSO. UMA PROFICIÊNCIA DA DEDICAÇÃO ANALÍTICA. ASSIM, O QUE PARECEM TEOREMAS COMPLICADOS SE TORNAM CÓDIGOS REVELÁVEIS. FLOR NO ASFALTO. ORA! DRUMMOND!
LER-ME EXIGE LENTES PROFUNDAS, QUE ALCANCEM A ALMA. QUE NÃO PENETREM A EPIDERME. A CARNE NADA FALA DE MIM. SENTIMENTOS NADA FALAM DE MIM. É NECESSÁRIO EXPURGAR, NUM ATO QUASE QUE EXORCISTA, OS ERROS ENTRE PENSAR EM MIM, LER-ME E AFIRMAR O QUE SOU. ISSO É COSIA DIFICIL DE SE FAZER, MAS NADA QUE UM SENSATO NÃO TIRE COM FACILIDADE.
MEU PERIGO TALVEZ SEJA SER UM LIVRO ABERTO, E ISSO É ÁLCOOL, É SUBSTANCIA INFLAMÁVEL, PRÓPRIO PARA QUEIMAR OS INFANTIS. PORÉM, NÃO ENTENDEM QUE NA REALIDADE  NÃO INTENTO SÊ-LO. É UMA VOCAÇÃO, É UM DESTINO QUE ME PERSEGUE.  E O QUE DIRÃO DE MIM? APENAS QUE ESCREVO? NUNCA! JAMAIS! MINHA ARTE NUNCA FOI ESCREVER, MAS TRANSCREVER. É UM LABORIOSO TRABALHO DE OSTRA. SOFRO, PADEÇO, CANTO EM ÊXTASE DE DORES E ALEGRIAS, E APÓS O PARIR ABRO AOS OUVIDOS LIMPOS E IMPUROS MINHA PERENE ÁGUA LÍMPIDA. É CONSTANTE DO ESPÍRITO QUERER FALAR, SE EXPRESSAR, SE LIBERTAR DO ENFADONHO CÉREBRO. CAIO E DEITAR-SE A DESFRUTAR AS AS ESTRELAS. DESPEJAR-ME É UM ENCONTRO COM O TRANSCENDENTE. 
ALGUNS ME TÊM POR PROLIXO, INDAGO: COMO NÃO SER? ESTARIAM PREPARADOS OS OUVIDOS PARA MIM? GRATIFICARIAM-ME OU NA PRIMEIRA ESQUINA ESTARIAM ESPREITANDO-ME COM ARMAS DE VIOLENTOS SERES: A LÍNGUA?! INSTRUMENTO DANADO! MACABRO! DOMINADOR! QUE HORROR! QUE HORROR! 
É PEQUENO, MAS TEM PODER PARA INCENDIAR UMA ALMA. POSSUI EM SI O PODER DA NEO-INQUISIÇÃO CONTRA OS QUE DISCUTEM SEM MEDO A ARTE DO SER, PORÉM, SÃO  CONCEITUADOS COMO HEREGES IRREDUTÍVEIS DEVENDO PASSAR PELA FOGUEIRA SEMPRE ALIMENTADA DE BOA LENHA. LENHA DA PRIMEIRA QUALIDADE. LEMBRAREMOS  BEM DE ALGUÉM CONHECIDO. NÃO CHAMARAM AQUELE QUE TEMOS COMO O CRISTO DE PAI DOS DEMÔNIOS, O "BELZEBUL"?! O NOVO SER ESCANDALIZA O VELHO SER, O NOVO HOMEM NASCIDO DA ÁGUA E DO ESPÍRITO, ESCANDALIZA O VELHO HOMEM CORROMPIDO PELO PECADO. COMEREI PEIXE PODRE PARA NÃO ESCANDALIZAR OS QUE GOSTAM DOS FRUTOS DO MAR ENQUANTO HÁ MANÁ FRESCO EM MINHAS MÃOS DIARIAMENTE? O ÉTICO ENVERGONHA O VELHO SER, O AMANTE DA VIDA PÕE O SEDUTOR DA MORTE A ABRAÇAR-SE COM O COVEIRO, SEMPRE COVEIRO PARA ENTERRA A ESPIRITUALIDADE. 
ESPIRITUALIDADE É OUTRA COISA QUE NÃO ME FOGE. NÃO HÁ COMO FUGIR DELA. NEM MESMO OS INSENSATOS RETIRAM-NA DESSA LIMITAÇÃO QUE VOS FALA. PARA OBTÊ-LA TIVE QUE ENTENDER QUE PARA CHEGAR AOS CÉUS PRIMEIRO PRECISO PASSAR PELA TERRA, COM A MENTE NA TERRA, COM O ESPÍRITO NA TERRA, COM AS PREOCUPAÇÕES PRÓPRIAS DA TERRA, SEM NUNCA SE DEIXAR DOMINAR POR ELA. 
ATÉ AS MAIS ESCURAS DAS PROFUNDIDADES. CONFRONTA-O AO HORROR QUE GUARDA EM SI. EXIGE QUE LIBERTE OS ASSASSINOS DOS SENTIMENTOS, DO CORAÇÃO E DA PIEDADE. 
ESTOU A MERCÊ TODOS OS DIAS DA PROLIXIDADE, ELA É O CARRO EM QUE CARREGO MEU REI, MEU TESOURO, O QUE DEVE SER CULTIVADO EM ALTA ESTIMA PELOS HOMENS. SERVINDO-ME DE FIGURAÇÕES SINTO-ME EM DITADURA. QUEM SABE MEUS "AIS" SUPEREM "O CÁLICE" DE CHICO E TENHA O MESMO DESTINO: UM CERTO QUÊ DE LIBERDADE! 
EU SOU ISSO.
COPIADO POR MUITOS, MAS NUNCA RECONHECIDO. CITAM MINHAS FRASES, MEUS DITOS, MEUS POEMAS EM TODOS OS LUGARES QUE PODEM: ARTIGOS, SERMÕES, LIVROS, CÂNTICOS E VAI LONGE MEU ESPÍRITO ATRAVÉS DAS PALAVRAS. TODOS FALAM DE MIM, SÃO PARTE DE MIM. OS "DECENTES" PODERIAM RECORRER A PRECISÃO DE SUA PRÓPRIA HUMANIDADE A ENTENDER O RECONHECIMENTO QUE SE DEVE TER AO PEQUENO MESTRE. SUAS FALÁCIAS SÃO BOAS, BOAS POÉTICAS, BOAS FILOSOFIAS, BONS PENSAMENTOS: LADRÕES PERFEITOS, CAMUFLADORES DA SAPIÊNCIA. SOBEM COMO ALGUNS DOS GRANDES FILÓSOFOS QUE FURTANDO A ALMA DOS ILUMINADOS GARANTE SEU PÃO E HONRARIAS. 
EU SOU ISSO.
A FACE DE MENINO, DE FRANZINO, DE ALTURA NÓRDICA-ALEMÃ NADA TEM HAVER COMIGO. A IMATURIDADE QUE REVELO NA SUPERFÍCIE ANIMADA REPRIMO NAS PALAVRAS. NÃO SEJAM HIPÓCRITAS OS QUE ME LEEM. QUEREM SUBIR? QUE SUBAM. ADMIRE, PORÉM A ASA QUE TE LEVA. O CÉU QUE TE AGUARDA. O UNIVERSO QUE TE IMPELE A MERGULHAR MAIS NELE. ANTES DE VER-ME CONSIDERE UM POUCO MAIS DE MIM NA FALA, NA GAGUEIRA QUE SOLENEMENTE NÃO RETARDA FALANDO BESTEIRAS NEM IMBECILIDADES. APRENDAM E APRENDEREI DE VOCÊS. NÃO COMO MESTRE, MAS PEQUENO MESTRE, ISTO -É, APRENDIZ.  


CALMO PARA OS QUE ACHARAM A LENTE CERTA PARA LER ESSE LIVRO DE PÁGINAS MALEÁVEIS. 
TEMPESTUOSO PARA QUEM AINDA NECESSITA DE UM BOM OFTALMOLOGISTA. 

EU SOU ISSO.



                                                                                                                                                                     Dalmo Santiago Jr.

REFLEXÃO II





NEGAR A SI MESMO


Então ele chamou a multidão juntamente com os discípulos e disse: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a vida por minha causa e pelo evangelho a salvará. Marcos 8.34




            Após ter passado por algumas aldeias de Cesaréia de Felipe Jesus parou um pouco e começou um diálogo com seus discípulos. Estava ali conversando como era de costume quando algo parece ter inquietado o coração do mestre. Ele queria saber qual a opinião que seus discípulos tinham dele. Ao ponto que Pedro afirma: Eu sei quem tu és. Para mim tu és o Cristo. Logo após Jesus profeticamente diz das situações que iria passar por causa da vocação dada por Deus a ele. Que teria de padecer, mas ressuscitaria no terceiro dia. Nesse exato momento percebe-se que Pedro, o mesmo que cria na vocação do Cristo retruca provavelmente: "Não mestre. Não é necessário que isso ocorra". Jesus repreendendo Pedro diz: “Aparta-te de mim Satanás”. O fechamento do diálogo creio que está no texto que refletiremos hoje: a idéia do negar-se a si mesmo.
            Jesus queria ensinar algo para seus discípulos e não apenas a estes, mas a toda multidão que o circundava naquele momento, algo que mudaria toda a concepção de vida para eles, que em grande estima traria uma conseqüência de mudança no próprio espírito dos presentes e de nós hoje. E é nesse contexto que nasce o versículo 34 do capitulo 8. Jesus indica que aquele que participa de sua vocação deve tomar atitudes extremas, consideradas até mesmo radicais para a época, mas que eram necessárias para que o mundo entendesse sua mensagem, sua boa nova, seu evangélion.
            A primeira atitude a se tomar ao se deparar com o chamado sagrado que identifica-nos como vocacionados diante de Deus é a negação do si mesmo. Mas, o que Jesus queria dizer com isso? O que é negar a si mesmo? O homem tem uma inclinação natural a pensar sempre primeiro em sua necessidade, seja qual ela for: alimentícia, emocional, espiritual e até mesmo financeira. Isso é próprio de nossa animalidade humana. Queremos sempre salvar a nossa pele nessa selva de pedra que chamam mundo urbano! (risos). Assim lutamos arduamente, principalmente no contexto que vivemos de uma economia voraz e exploradora de pessoas, para nos mantermos, para vivermos sobrevivendo. Dessa forma, somos tentados a pensar sempre no “eu” e no suprir do mim nunca no outro. Negar a si mesmo nas palavras de Jesus significa se dispor inteiramente ao seu chamado aniquilando o poder que as necessidades têm sobre nós. A capacidade de dependência delas precisa ser anulada dando lugar à nossa alteridade, ao nosso espírito de fraternidade e solidariedade. Por isso Jesus diz em Mateus 6.25 “não fiquem ansiosos”. A ansiedade é um mal que cabe a nós mesmos controlar através do poder do auto-domínio. Ela abre a porta para que as necessidades dominem tanto nossa a vida a ponto de não olharmos mais nada e ninguém apenas nós mesmos. Como alguém neste estado de profunda ansiedade e preocupação consigo poderia seguir o mestre?
            Quando nos livramos de uma visão radicalmente egocêntrica nossa responsabilidade aflora como responsabilidade de vocação para com a causa de Jesus: a promoção do Reino de Deus. Essa responsabilidade chega a modificar tão significativamente nossa vida que mesmo o conteúdo de nossas orações sofrem uma mutação. O diálogo com Deus passa a não ser mais uma busca frenética por bens pessoais, por uma satisfação puramente indiviualista mas, por bens comunitários, bens, ou numa linguagem mais cristianizada, bênçãos que atendam a todos. A oração deixa de ser: “Senhor abençoa minha familia” para ser “Deus abençoa nossas famílias”; ou “Jesus enche meu armazén de mantimento” para ser “Pai dá de comer a todos aqueles que têm fome”. Nos incomodamos em falar com Ele: “Senhor dá-me uma casa luxuosa para que a possa habitar”. Para clamamos: “Senhor abençoa-nos com habitações, tem misericórdia daqueles que não tem onde dormir, comer e descansar”. O singular é substituído pelo plural. Nosso diálogo oracional sai do pronome reto ‘eu’ para o ‘nós’. Nossa sensibilidade fica mais perceptível, nos sentimos totalmente responsáveis pelas outras pessoas que não tem o que não temos.   
            O negar a si mesmo de Jesus é uma proposta enriquecedora para nós. Proposta esta que causa uma transformação interior de desapegamento de nossos próprios interesses para que se abra num interessamento pela causa de Jesus. E qual a causa de Jesus: o amor ao próximo, o cuidado para com outrem, o serviço (diakonia) para com aquele que está diante de mim. Negar a si mesmo constitui-se num abandonar a casa do eu, a habitação nefasta do viver em si mesmo, fechado para si e cego em relação ao outro. Para segui-lo é necessário que em nós resida essa compaixão solidária, que oremos pelos que padecem e, não apenas nos conformemos em orar, mas em realizar esse Reino que nos foi legado por Jesus no hoje, no agora, a partir dessa transformação e práxis benfazeja que exige um sacrificio pessoal. Um tomar a cruz.
              Tomar a cruz é atitude dolorosa, de sentimento compartilhado, é um chorar com o outro, sorrir com o outro, viver com o outro, partilhando cada momento, cada circunstância, cada situação, cada preocupação lutando para a amenização do caos interior do próximo (Romanos 12.15). Por isso, apenas quem é liberto da prisão de si poderá desempenhar esta diakonia altera ( serviço por alguém=outro).
                  Deixar os interesses próprios para pensar nos problemas alheios não é atitude fácil de se tomar. Na realidade é necessário que confrontemos nossos desejos mais profundos e abramos mão de muitas das satisfações que poderíamos ter focando nosso olhar em nosso próprio umbigo. Porém, ao que se dedica a vocação, ou a causa de Jesus a satisfação pessoal ocorre de outro modo. Para ele não é um carro, ou uma grande habitação que faz diferença e sentido para sua vida. Não é uma conta gorda num banco multinacional. Não são cultos extáticos cheio de línguas estranhas
e movimentos espirituais e místicos que trazem a beleza de ser um seguidor de Jesus. 
                  O mistério que se desvenda aos olhos de quem sai da mesmice de si e confronta-se a si mesmo é só um: o verdadeiro encontro com Deus no encontro com essa verdadeira vocação que extrapola tempos, que vai além de templos, religiões ou divindades e se depara unicamente com a face de Deus sem morrer, mas vivendo dando sentido ao si liberto de si sendo salvo na face do outro, que é face de Deus. Sua imagem mais nítida, sua semelhança mais semelhante. Imago Dei.

                                                       

                                                                                                                                      Dalmo Santiago Jr.


A CARTA DE UM VIVO AOS MORTOS, DE UM LIVRE AOS PRESOS




FOI O AR QUE NÃO CONSEGUIA MAIS RESPIRAR. VER AS PESSOAS SENDO ENGANADAS E GOSTAREM DISSO CAUSOU-ME NÁUSEAS. QUE SERVENTIA HÁ NUM CRISTIANISMO DESSE? ME INDAGUEI. NÃO PRECISEI RESPONDER, AS PESSOAS RESPONDERAM POR MIM. TRANSITEI ENTRE CULPA E SATISFAÇÃO, MAS HOJE PERCEBO QUE SE CONTINUASSE MORRERIA: TENHO SATISFAÇÃO! ERA RATO DE LABORATÓRIO, HOJE SOU CIENTISTA E OBSERVO OS RATINHOS SENDO DOPADOS PELO RESTOLHO QUE FAZEM DO EVANGELHO. OS APLAUSOS, AS MÚSICAS, AS DANÇAS NÃO IAM A LUGAR ALGUM SE NÃO AO ALTAR ONDE ESTAVA SENTADA A BESTA FERA. A ARMADILHA ARMADA DE TODA ALMA QUE SE MOSTRE INOCENTE E DÉBIL. A SUPERFICIALIDADE VENCEU A PROFUNDEZA DE ESPÍRITO. O RANCOR E O ÓDIO VENCERAM A PACIÊNCIA E O AMOR. A ORGANIZAÇÃO FINANCEIRIZADA ANIQUILOU O CULTO, A ADORAÇÃO E A CARIDADE. O EVANGELHO FOI SUBSTITUÍDO POR FALÁCIAS. A KOINONIA FOI EXPULSA PARA QUE SE CULTUASSE A HIPOCRISIA DOS LAÇOS. LAÇOS APÁTICOS, PESSOAS APÁTICAS: ZUMBIS A PROCURA DE DEUS. 
FOI O AR QUE NÃO CONSEGUIA RESPIRAR MAIS. OUVIR OS GRITOS DE APELO, AS RECLAMAÇÕES CONTIDAS, O SOFRIMENTO FORA DO PALCO. SIM! PALCO ONDE SE APRESENTAM O ENGANADOR E OS ENGANADOS.  OUVIR OS GRITOS DE QUEM NÃO SABE REAGIR PELA VERDADE, MAS ACOSTUMAR-SE COM A MENTIRA CAUSAVA-ME NÁUSEAS! ÓH! VÔMITO QUE ME ASSOLA! PROFUNDAS FEBRES E TREMORES DIURNOS E NOTURNOS. CLAMARAM: NÃO! AO ESPÍRITO DA BEATITUDE DE DEUS. CLAMARAM: NÃO! AO EVANGELHO DA PAZ. CLAMARAM: NÃO! A SINGELEZA E HUMILDADE DE ESPÍRITO. OLHAM O ERRO E CONSIDERAM-NO COMO VERDADE ABSOLUTA. O QUE FARIA UM LIVRE NA SENZALA? QUEM RECEBEU A CARTA DE ALFORRIA PENSARIA EM RETORNAR ESMO PARA AS CORRENTES DA ESCRAVIDÃO PERCEBENDO QUE FORA CURADO, LIVRE E COBERTO PELA FELICIDADE? ORA, NÃO SE PREOCUPEM COM O MANCEBO LIVRE TENS AINDA MUITAS CORRENTES A SE LIVRAR. CADA CADEADO A SER ABERTO EXIGE UM SENSO DE FÉ. UMA PACIÊNCIA EXTRA. UM SOFRER E UM PERTURBAR-SE QUE FAZ SE QUESTIONAR A PRÓPRIA ALMA: MAS, POR QUE ISSO OCORRE? NÃO DEVERIA SER DIFERENTE? NÃO DEVERÍAMOS NOS SENTIR LIVRES E SENDO LIVRES ESTARMOS LEVES DESFRUTANDO A GUARIDA DE DEUS, DAQUELE QUE CHAMAMOS SAGRADO? A CULPA VIRÁ DIVERSAS VEZES E DIRÁ: NÃO PODES SE LIBERTAR. DEUS O PROÍBE. ISSO É MALEDICÊNCIA QUE NÃO CABE AOS SENSATOS. PORÉM, DURANTE UM TEMPO OUVINDO AS ACUSAÇÕES DO 'EU' PASSA-SE A SE QUESTIONAR: MAS, POR QUE OUTROS LIVRES VIVEM MELHOR QUE EU? SENTEM A PRESENÇA SAGRADA DO SAGRADO SER CHAMADO DEUS? POR QUE CULTUAM VIVENDO E, VIVENDO NÃO PARECEM CONOSCO, CORPOS DE UMA CATACUMBA? VIVA! DÁ-SE O ABALO DA ALMA. ACORDA-SE DO CAIXÃO VEDADO PELA ORDEM HUMANA DO: 'NÃO PODES!' PELO RUGIDO DO AUTORITÁRIO QUE MANDA: 'NÃO PODES!' UNS RETORNAM AOS SETE PALMOS GARANTIDOS À SI. OUTROS DESPERTAM COMO O SOL, ABANDONAM O HORIZONTE E SE REVELAM GLORIOSOS AOS OLHOS DE QUEM NUNCA PODERÁ SUBIR AO CÉU E DIZER DE VERDADE: ENCONTREI DEUS.

                                                                                                         


                                                                                                                                                                           DALMO SANTIAGO JR.

ÁGAPE EM MIM





DAS FERIDAS RESSUSCITO, SORRIU E DANÇO 
ERGO A FRONTE SABENDO QUE CAMINHO PERCORRO E QUÃO BOM É ISTO PARA A ALMA. ESTAR TRANQUILO ENQUANTO OS ATAQUES SÃO ROTINEIROS, ESTAR NO BARCO ESTANDO NA TEMPESTADE, MAS NÃO DEIXANDO QUE ELA ESTEJA EM MIM. ISSO É SINAL DE UM ESPÍRITO CURADO. ENFERMOS SÃO OS QUE EM TEMPESTADE GRITAM, APONTAM PARA OS CÉUS E ODIOSAMENTE BLASFEMAM CONTRA DEUS: RACA! 
NÃO! EU COMPREENDI UM DOS SEGREDOS DA VIDA. VIVE BEM QUEM SE CONHECE BEM E CONHECENDO-SE LANÇA-SE AO OUTRO NÃO COMO UM CERVO DESPROTEGIDO PRONTO A SER DEVORADO PELO PREDADOR, MAS SE APROXIMANDO DESTE O PERCEBE COMO FRÁGIL, BONDOSO, DESESPERADO E DÓCIL. AÍ RESIDE A MORTE DO PRECONCEITO, EM PENSAR SER O OUTRO LEÃO ENQUANTO NA REALIDADE É POMBA FERIDA.
A VOCAÇÃO AO CUIDADO É IMEDIATO, POIS DIANTE DA FACE DE OUTREM, COMO DIRIA LÉVINAS, ASSUME-SE AUTOMATICAMENTE UMA RESPONSABILIDADE QUE GRITA NO NO PEITO COMO DÓ, CULPA OU PIEDADE. É NA AÇÃO DA CARIDADE, DO SE LEVANTAR DO CIRCULO DE HIPOCRISIA E DISPENSAR OS CUIDADOS NECESSÁRIOS A ESTE OUTREM QUE NASCE O QUE JESUS CHAMOU "FILHOS DE DEUS". 
ESTES NÃO RESIDEM NA IGREJA OU NOS PÚLPITOS. PARA FALAR A VERDADE ATUALMENTE É RARO ENCONTRÁ-LOS LÁ. ESTES ENTENDERAM QUE A IGREJA SÃO ELES MESMOS E QUE O RITO CULTICO QUE OFERECEM É UMA VIDA DEDICADA AOS VALORES MAIS ESSENCIAIS DO JUDAÍSMO E, CONSEQUENTEMENTE DO CRISTIANISMO: AMAR A DEUS E O OUTRO.
ANULA-SE A MÁSCARA, ABANDONA-SE OS DITOS E ABRI-SE AOS DIZERES. LARGA-SE O CONCEITO PRÉVIO PARA SE ABRIR A DIMENSÃO DA FACE DO OUTRO QUE QUER DIZER SEMPRE ALGO E NA MAIORIA DAS VEZES CLAMA: AJUDA-ME. COMO A FACE DO POBRE ASSALTADO NA PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO. OS PASTORES E LEVITAS PASSARAM DE LONGE E APENAS AQUELE QUE RESPONDEU AO CONVITE DO CUIDADO, O SAMARITANO, O PAGÃO, O AMALDIÇOADO PELO JUDEU, INCLINOU-SE E ENCONTROU COM A FACE PEDINTE. NÃO VIU ALI UM HOMEM SEMI NU, UM PECADOR, UM DESAFORTUNADO ATACADO POR SATANÁS, MAS UM SER HUMANO. SUA HUMANIDADE TRANSCENDEU SUA RELIGIÃO E COMO HUMANO SEMELHANTEMENTE TRANSCENDEU SUA PRÓPRIA ESPÉCIE. ISSO É ALCANÇAR O SAGRADO, É SER COMO O SAGRADO, É SER O SAGRADO, É VIVER DEUS.  



                                                                                                                                                                            

                                                                                                                                                                                       Dalmo S.

REFLEXÃO I: O BOM PASTOR



REFLEXÃO NO SALMO 23.1-3



Este texto é de significado singular para mim. Digo isso, pois remete a uma das mais confortantes experiências de um homem que soube entender o amor de Deus na própria pele. Este texto tem de especial a analogia que Davi faz entre o pastor de ovelhas e nosso amado Pai. O que magnificamente ressalta aos nossos olhos é a revelação que Davi faz de um Deus que se preocupa com o ser humano e está atento as nossas mais difíceis necessidades. Ao mesmo tempo que Davi faz essa reflexão algo dele mesmo brota nesse cântico. Não podemos esquecer que o autor desse belo hino era pastor de ovelhas (2 Sm 7.8) e cuidava das mesmas com a própria vida e, cultivando essa experiência do pastorado percebeu que o mesmo cuidado que ele tinha com suas frágeis criaturas Deus semelhantemente tinha por ele.
Davi destaca em seu salmo um Deus que é pastor e como tal assume essa posição assim como totalmente as qualificações que cabem a um diligente pastor e são nessas qualidades que o jovem ruivo experimentara em sua vida de perigos que entendemos o grande amor de Deus por nós.
A primeira coisa que ressalta aos olhos é a dimensão do cuidado. Da esperança e certeza desse cuidado é que faz brotar o cântico “O Senhor é o meu pastor e nada me faltará”. Esta afirmação não poderia vir de qualquer boca, mas apenas dos lábios de alguém que havia experimentado essa realidade. Era exatamente essa certeza de Davi no terno cuidado de Deus que o fazia ser diferente em sua geração e em suas decisões. 
Davi revela ao leitor cuidadoso em seus deliciosos versículos a dimensão de Deus e sua qualidade como pastor em relação a nós. Como se disse a pouco a primeira coisa que se deve considerar aqui é a relação baseada no cuidado. Não são poucos os textos em que Davi demonstra o atento cuidado de Deus para com ele nos momentos dificultosos. Um deles está sito no Salmo 40. No desandar deste salmo pode-se perceber a sensação de pavor que o mesmo passara. Seus momentos de crise eram comparados a um sufocar no charco de lodo. Porém, mesmo em situação angustiante e apavoradora ele afirma no verso 17: “Deus cuida de mim”. 
A certeza desse cuidado sempre pronto a socorrer fazia Davi exclamar com voz de alegria que o Senhor era a sua luz e salvação e que “Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, nisto confiaria" (Salmos 27:3). As situações poderiam variar, mas o espírito de Davi estava sempre pronto a crer que Deus era maior para socorrê-lo em tempo certo. Quando cremos e esperamos na resposta certa e benfazeja do Pai da consolação somos consolados, e por ele animados a fim de que vivamos na plenitude de sua bondade.
Isso gera algo glorioso dentro de nós: um espírito refrigerado. A confiança que depositamos em Deus faz-nos perceber as adversidades sob uma nova perspectiva: a perspectiva da fé. E isso incomoda-nos em grande apreço. Incomoda por que aquilo que dependemos de fé independe de nossas capacidades. Somos forçados a nos lançar no Mistério resoluto sem saber o que ocorrerá. É um saltar na escuridão, mas com um sentimento certo no seio de que o bom pastor está atento a nos olhar e preparado para nos agarrar no momento da queda. Antes de nos lançarmos completamente agonizamos, gritamos e sofremos como uma ovelha que observa a entrada do lobo no raio das terras de seu senhor. O segredo da fé é lançar-se por inteiro e lançando-se permitir-se ser levado cuidadosamente a firmeza daquilo que se espera e a certeza daquilo que não se vê (Hb 11.1). 
Lançar-se completamente a Deus é dizer com leveza de espírito: “Confio em ti Senhor e Deus meu, por isso sou confortado pela fé que nutro em mim”. Assim participamos das tempestades que ora ou outra insistem em assolar nosso pequenino barco. Estamos dentro dela, mas ela não está dentro de nós. É o que percebemos claramente na caminhada das águas de Jesus (Mt 14.22-34). Nos versos anteriores Jesus havia realizado a multiplicação dos pães e peixes para as pessoas que escutavam suas palavras e terminando seu sermão subiu a um monte a orar ordenando a seus discípulos que entrassem no barco e prosseguissem a viajem sem ele. De prontidão os pupilos obedeceram a ordem do divino mestre e ao chegarem ao meio do mar uma tempestade os assolou. A cena era dramática. Ondas entravam na embarcação anunciando previamente o desastre a acontecer, mas de repente entre as ondas surge Jesus. A cena é digna de efeitos especiais. Os discípulos dominados pelo medo pensavam estar diante da morte e gritavam: Vejam um fantasma! A tempestade impedia que eles percebessem a presença de Jesus em seu meio. Ao se identificar Pedro pede permissão à encontrá-lo nas águas. E aos poucos o retrucão Pedro ia caminhando, porém algo ocorre. Pedro foi ao encontro de Jesus, mas a tempestade não estava apenas fora do barco, estava dentro de seu coração. O temor fê-lo afundar nas águas de seu próprio medo. Quando entrou alguém que não cultivava a tempestade dentro de si no barco, mas a fé no socorro de Deus, as águas tempestuosas cessaram. “Homem de pouca fé!” Dura declaração. Nem para pôr café serviam! (risos) Mas, estavam sendo ensinados a crer e confiar no cuidado carinhoso de Deus. 
Espero carinhosamente que você como ovelha do pasto do Bom Pastor descanse a alma e firmemente creia no socorro protetor e acalentador de Deus. Desejo semelhantemente que na confiança que seja posta nele possa estar todas as suas expectativas emocionais, psicológicas e espirituais. Não deixe nada em teu coração perturbar o refrigério que o Senhor te dá. Minha oração ainda é que você desfrute das tempestades não como desastres, coisas ruins e insuportáveis, ou situações desagradáveis crendo ser castigo de Deus, mas como momentos de maturação na própria vida como ser humano e filho de Deus. Que Deus vos abençoe. 

AOS VAZIOS PARA QUE SE ENCHAM










HÁ DIVERSOS TEMORES QUE ABRIGO EM MINH'ALMA UM, PORÉM, NÃO CONSIDERO MEDO, MAS PREOCUPAÇÃO: 
A INQUIETAÇÃO DE NÃO ME AQUIETAR NOS MOLDES DOS QUE QUEREM ME CONTER EM SEUS QUADROS VAZIOS E INÓCUOS. 
ESTA PREOCUPAÇÃO NÃO É POR MIM, MAS POR ELES. 
SE DEBATEM, GRITAM E AGONIZAM FEITO PEIXE TIRADO DO MAR FRENTE MINHA FACE. 
SANGRAM E SE MACULAM NA PRÓPRIA IGNOMÍNIA. NÃO SEI SE RIU OU FICO SÉRIO E SISUDO. 
PREFERI NA VIDA LIDAR SEGUNDO A PRIMEIRA REAÇÃO, POIS LEVAR A SÉRIO OS PATÉTICOS SERIA ADMITIR-ME COMO ESTES SABENDO QUE NÃO SOU. 
ASSIM DIVIRTO-ME COM O TEATRO QUE FAZEM SENTANDO-ME SEMPRE NA PRIMEIRA CADEIRA PRÓXIMO AO PALCO. 
ALEGRO-ME COM O PICADEIRO TENDO AO MESMO TEMPO DÓ DOS QUE SE ACHAM ENGRAÇADOS COM SUAS VELHAS PALHAÇADAS. 
CADA VEZ QUE GRITAM ERGO-ME DE MEU CONFORTÁVEL ESTADO DE ESPÍRITO E OBSERVO DE LONGE, ANALISO E, COMO UM INCRÉDULO EXCLAMO: ORA, MAIS UM FANÁTICO! MAIS UM VAZIO DE SI! 
PADECEM DE UMA DOENÇA INCURÁVEL, DE UMA CEGUEIRA SEM OLHOS, DE UMA LOUCURA SEM CÉREBRO OU CEREBELO. REMOEM DENTRO DE SI A INSIGNIFICÂNCIA DE SEREM QUEM SÃO. 
O QUE SÃO? 
NÃO SEI. 
TALVEZ, ALGUM ORÁCULO MÁGICO RESPONDA ESSA QUESTÃO. 
SERÃO CURADOS TALVEZ SE DORMIREM UM SONO TRANQÜILO, SE DESCANSAREM NA PENUMBRA DE VIVEREM SUAS VIDAS E, SENDO VAZIAS, TENTAREM PREENCHÊ-LAS COM INTELIGÊNCIA NÃO BUSCANDO NA VIDA DOS OUTROS SENTIDO PARA SUAS, MAS ALEGRANDO-SE COM QUEM SE É SABER VIVER. 
PORÉM, COMO SE ALEGRARÃO SE AO OBSERVAREM-SE ENCONTRAM EM SI A IMUNDICIA QUE SÃO? 


O NÃO SENTIDO QUE SE TORNARAM PARA SI MESMOS E PARA OS OUTROS? 
NEM OS FILÓSOFOS RESPONDEM A TAL QUESTIONAMENTO! OUSO-ME RESPONDER: DEIXANDO DE SEREM A IGNOBILIDADE QUE SÃO RELUZINDO UM FÓTON DE LUZ DE COERÊNCIA ENFIM. 
SÁBIO NÃO É O QUE SABE ESCREVER SEU NOME OU DESVENDAR ENIGMAS MATEMÁTICOS OU EVOLUÇÕES QUÍMICAS. MAS O QUE MERGULHANDO EM SI MESMO DESVENDA SUA PRÓPRIA ALMA, SUAS MISÉRIAS OCULTAS E MANIFESTAS E COM CALMA CORRIGE AQUELES ERROS QUE DÃO PARA RESOLVER COM AS PRÓPRIAS MÃOS. 
AÍ RESIDE MINHA DIFERENÇA: VIVO OBSERVANDO-ME COM CUIDADO E SINGELEZA DE ESPÍRITO NÃO ME IMPORTANDO COM OS ERROS ALHEIOS A FIM DE APONTÁ-LOS E ESTIGMATIZAR QUEM QUER QUE SEJA. ANTES CENSURO-ME E APONTO PARA MIM PRÓPRIO A PROCURA DE MEU ARGUEIRO E DESSA FORMA VIVO FELIZ, PASSANDO PELAS CRISES FUTURAS E PRETÉRITAS SEM DANOS IRREVERSSÍVEIS. 
SENDO SÁBIO CONSIDERO E ATENTEM-SE PARA O QUE DIGO: HÁ MUITOS ERROS EM MIM PARA SEREM RESOLVIDOS, NÃO TENHO TEMPO PARA INQUIETAR COM A VIDA ALHEIA AFIM DE ACUSÁ-LA, POR ISSO ACUSO-ME, CRITICO-ME, ANIQUILO-ME E SUBO COMO UMA ÁGUIA AO CÉU ENQUANTO AS MESMAS GALINHAS ME OLHAM DE SEUS POLEIROS. 
COSIDERO AINDA QUE A VIDA É BREVE E CURTA PARA ME IMPORTAR EM PREOCUPAR-ME E DESGASTAR MEU SER COM AS INFIMIDADES QUE ME SURGEM DE TEMPOS EM TEMPOS. 
CAMINHO SEGUINDO. APRENDAM ISSO E SEJAM FELIZES. PREENCHAM SEUS VAZIOS ONTOLÓGICOS.   


                                                                                                                                    DALMO S.

ORAÇÃO A DEUS






PROSTRO-ME PELO ENSINO E CONHECIMENTO QUE DESTE A ESTA ALMA,
A ESTE SER VIVENTE, A ESTA CARNE PRESA EM OSSOS,
ÍNFIMO SER DEPENDENTE DE TUA GRANDEZA INABALÁVEL.
ARISTÓTELES EQUIVOCARA-SE AO TE TER COMO MOTOR IMÓVEL,
DEVIR ÉS, POR ISSO TE CHAMAM VIDA.
COM MINHAS MAZELAS INTERIORES, MINHA VIDA ULTRAJADA PELO PECADO
APROXIMO-ME DA SACRA REALIDADE QUE ÉS E GRITO COMO OPROFETA:
AI DE MIM QUE PEREÇO!
ENXERGO SOBRE MINHAS MÃOS E PÉS A MISSÃO CONCEDIDA COM ÁRDUO SANGUE E LABUTA.
COM OFEGANTE GRITO INTERIOR FRENTE A MISÉRIA HUMANA: GEMIDO INEXPRIMÍVEL!
ENQUANTO A VIOLÊNCIA DE MINHA MENTE ANIMAL TENTA DOMINAR-ME PELOS INSTINTOS HOMINÍDEOS
É NA EXPERIÊNCIA DA FÉ QUE O HUMANO ENTENDE SER SAGRADO COM O TODO,
COM O NADA,
COM O SER QUE É EM SI MESMO: "EU SOU"
ASSIM ABANDONO ESSE CORPO MORTAL, NÃO POR SÊ-LO EM SI COISA DESPREZÍVEL, POIS NÃO O É.
É CERTAMENTE CASA, HABITAÇÃO, TEMPLO DE TEU SER. MORADA DE DEUS, SANTUÁRIO DO ALTÍSSIMO.
MESMO CONTAMINADO PELA VIL RAZÃO DE QUERER SUPERAR-TE HABITA-NOS
E PREENCHE AQUELE VAZIO EXISTENCIAL QUE TODO SER QUE SE DIGA HUMANO POSSUI: O VAZIO DE QUERER ENCONTRAR-SE E TRANSCENDER-SE À ALGO EXPLICÁVEL SOBRE TUDO.
SENTINDO-ME SÓ, SEM RAZÃO DE SER, SIGO NA VIDA TENTANDO COMPREENDÊ-LA COM ESFORÇO NECESSÁRIO.
ENTENDER O PORQUÊ DA MORTE QUANDO A VIDA TERRENA SE MOSTRA TÃO SAGRADA A MEUS OLHOS.
QUEM NÃO TRANSCENDE AO VER O OCEANO A VISTA DOS OLHOS,
AO SENTIR O AROMA AGRADÁVEL DOS MORANGOS E O SABOR INDESCRITÍVEL DO NÉCTAR DAS FLORES NO MEL?
AO SER CONDUZIDO PELAS MÃOS MATERNAS AO ACONCHEGO DE SEU SEIO OU ATÉ MESMO A ORIENTAÇÃO RÍGIDA DO PAI AO BEM QUERER DO MANCEBO FILHO?
BUSCO AS RESPOSTAS SABENDO QUE NEM TODAS AS TEREI.
MAS, ALGO ME DIZ,
SIM, AQUELA VOZ INTERIOR QUE EM MOMENTOS CERTOS NOS DETERMINA O MELHOR CAMINHO A SEGUIR,
QUE CONTINUE A JORNADA, A PERQUIRIR SOBRE TUDO, A CONHECER SOBRE MIM MESMO.
É NESSE PEDIDO QUE RENDO A TI MINHA DEVOÇÃO MAIS SINCERA DEMONSTRANDO A TI MINHA DEBILIDADE E PERFEIÇÃO,
TANTO NA CARNE COMO NO ESPÍRITO,
POIS AMBOS SÃO A MANIFESTAÇÃO SAGRADA DE TEU GÊNIO CRIATIVO.  
PEÇO-TE QUE GUIES A ESTE POBRE E NU, NECESSITADO DE TI, UNICAMENTE DE TI ÓH! RAZÃO SAGRADA DE TUDO SER E DEIXAR DE SER.
PEÇO-TE QUE ALIMENTE ESSA ALMA QUEBRANTADA COM TUA GRAÇA, COM TUA PALAVRA, DE ONDE VENHA ELA,
DE UMA BRISA OU TEMPESTADE, DAS ALTURAS OU DOS VALES.
QUE TEU SILÊNCIO MANIFESTE-SE EM PROPÓSITO QUEBRANDO TUA TACITUDE E,
QUE POSSA ESTE HUMILDE SERVO CHEGAR A TUA MESA E BEBER DE TEU CÁLICE DE MISERICÓRDIA E PARTILHAR DA GRANDEZA DE TEU PÃO DE AMOR, COMUNHÃO, SINCERIDADE E VERDADE
ALIMENTANDO-ME E ALIMENTANDO OS QUE GRITAM POR JUSTIÇA E PADECEM PELA FOME.
HABITA-ME ENQUANTO HABITO-TE.
EM NOME DE JESUS AMÉM.


                                                                                                                                          DALMO S.         

PALAVRAS, MENTIRAS E OUTRAS COISAS...




O QUE SÃO PALAVRAS? DEVEMOS CONFIAR NELAS?
DEVEMOS PÔR NOSSOS FRÁGEIS PÉS NO QUE NOS SIGNIFICAM NA VIDA? TRARIA A CERTEZA DAS COISAS EM SEUS SIGNIFICADOS? MERA ABSTRAÇÃO.
O QUE É PARA UM HOMEM TRANSITAR ENTRE VERDADE E A MENTIRA EM ALGUNS MILÉSIMOS DE SEGUNDO?
SOFRER PELA VERDADE ESMAGA O CORAÇÃO, MAS PELA MENTIRA O ANIQUILA. É UM EMBARAÇAR NO LAÇO DO PASSARINHEIRO E SER PICADO PELA PESTE PERNICIOSA.
É NADAR NUM MAR SEM ÁGUA OU HABITAR NUM CORPO SEM ALMA.
MAS, POR QUE É MELHOR O MENTIR DO QUE A VERDADE, POR QUE ELAS NÃO FALAM POR SI O QUE DEVEM FALAR?
ENGANAM A QUALQUER POBRE QUE NÃO TENHA A CIÊNCIA DE SUPERÁ-LAS.
É NECESSÁRIO SE APOIAR PARA NÃO CAIR E REVOAR.
AINDA MAIS QUANDO SE BATE NUMA FERIDA QUE SE FERE TODOS OS DIAS.
DEIXA DE SER FERIDA E INFLAMA E DAS CARNES PUTREFATAS VEM A GANGRENA CONTAMINANDO O CORPO SADIO.
APODRECE-O E MATA-O. PORÉM, ISSO NÃO OCORRE COMIGO. O PODRE É PARA MIM COISA REFUTÁVEL. E A MENTIRA LANÇO-A PARA ONDE DEVE ESTAR.
O PRAZER PELA MENTIRA CABE AOS DÉBEIS QUE INSISTEM EM SE LAMURIAR NOS SOFRIMENTOS PRÓPRIOS.
INCAPAZES DE DISTINGUIREM OLHO DE VISÃO. TERIA QUALQUER OLHO VISÃO?
PALAVRAS CURAM, PALAVRAS ENFERMAM, FREUD NÃO ERROU EM TAL CONSIDERAÇÃO.
PALAVRAS NA REALIDADE NÃO SÃO NADA, PORÉM, AO SIGNIFICAREM PASSAM A SER TUDO.
E É NESSE TUDO QUE PERMEIA VERDADE E MENTIRA.
QUE ABRE A POSSIBILIDADE DO VERDADEIRO DIZER A VERDADE E O FALSO FALAR SUAS MENTIRAS.
NÃO HÁ QUEM NÃO VIVA ENTRE ESSA PRISÃO DICOTÔMICA.
NÃO HÁ SANTOS DEMAIS NEM HIPÓCRITAS DE MENOS.
TODOS FUNDAMENTAM SUAS VIDAS NESSAS REALIDADES, E NAS PRÓPRIAS PALAVRAS QUE AS SIGNIFICAM, ORA COM MENOS, ORA COM MAIS INTENSIDADE.
A DIFERENÇA DO SÁBIO ESTÁ EM NÃO SER DOMINADO PELA MENTIRA, MAS PELA VERDADE.
E COMO ENCONTRAR ESSA TAL VERDADE SE AS PALAVRAS TÊM EM SI A POSSIBILIDADE DE TRAZEREM SIGNIFICADOS MENTIROSOS E RRÔNEOS?
AQUI A RESPOSTA: LIMPANDO-SE A SI MESMO,
DEIXANDO A MÁSCARA INÚTIL DA HIPOCRISIA, SE LIBERTANDO DO MEDO QUE NOS FAZ IRMOS A ANIMALIDADE FUÇAR AS PORCARIAS DE NOSSA ESSÊNCIA.
VIVE DE VERDADE NÃO QUEM SABE O QUE É A VERDADE, OU A MENTIRA, MAS QUEM SE DISPÕE A SER SUA PRÓPRIA VERDADE.


                                                                                                                                                  DALMO S.

AFORISMO V

"A fé é o crer no que se considera não crível, é o absurdo da absurdidade, é a mola de superação do ser dele mesmo".  Dalmo S.

AFORISMO IV

“A vida é o conjunto de breves fluxos temporais circulares e contínuos experimentados na existência. Vive bem quem dá um bom sentido a eles”. Dalmo S.

AFORISMO III

"Os cristãos poderiam aprender uma coisa preciosa com Jesus: serem religiosos de menos e humanos demais". Dalmo Santiago.

NIETZSCHE: UM GRITO DE ALERTA PARA A IGREJA E UMA PROPOSTA DE SALVAÇÃO PARA A MESMA



           

Dalmo Santiago Junior



            O título de imediato traz ao leitor um susto repentino e um desejo de não continuar a leitura por pensar: "lá vem mais uma reflexão de Nietzsche que “desce a porrada” no cristianismo". De certo modo farei essa reflexão, mas não para induzi-lo a abandonar sua fé, apenas refletir sobre ela e melhorá-la (já que também sou cristão!). O encontro com Nietzsche é algo interessante por suscitar nos espíritos modernos antipatia por aqueles que se entendem religiosos e simpatia pelos que se denominam ateus. Não por acaso surge esses sentimentos nos leitores desse pensador alemão. Porém, posso dizer com certeza que Nietzsche muito mais que um transmutador da moral é um terremoto, como ele mesmo se denominou “sou uma dinamite”, que chacoalha os espíritos dormentes e desperta do sono indolente as almas deleitadas na miséria. É nesse sentido que busco em Nietzsche uma reflexão para nós da igreja.
      Ser crente e, principalmente cristão, é estar ciente de seu compromisso com os ensinos de Jesus de Nazaré, aquele que para uns foi um profeta e para outros Filho de Deus, e assim como crente creio. A pessoa e os ensinamentos de Jesus sempre são os elementos norteadores da vida do cristão. Temas como: amor, compaixão, graça, virtude, misericórdia fazem parte não apenas dos dogmas da igreja, mas também de sua ética. O cristão entende no aceitar o cristianismo como religião sua que deverá caminhar por este caminho sagrado que exige do crente tais práticas. Essa percepção é clara e límpida, mas o que se percebe quando fazemos uma retrospectiva histórica, é que aquela que se considera portadora do Evangelho e promulgadora do mesmo em muitos momentos deu sinal de que não estava comprometida com tal ética. O que dizer de situações como a perseguição engendrada pela Igreja logo no século IV quando sobe ao poder com Constantino.
Não há como desassociar a história da igreja com a morte de milhares de pessoas na Idade Média através do Tribunal do Santo Ofício. Mulheres consideradas bruxas eram lançadas em fogueiras ardentes para purificação de suas almas. Homens doutos nas ciências, como Nicolau Copérnico, ao descobrir o sistema heliocêntrico foi duramente perseguido pela Igreja que ordenou ao mesmo que negasse suas descobertas. Sua obra “Das Revoluções dos Corpos Celestes” foi incluída no Índex (livros proibidos pela Igreja considerados pecaminosos). Aqui refiro-me à Igreja Católica. Só que não foi apenas esta igreja que realizou uma inquisição. Lutero também iniciou a dele.
Nos países em que seus governantes assumiram o protestantismo o derramamento de sangue foi intenso. No século XVI, fins da Baixa Idade Média, houve um massacre de monges da Abadia de São Bernardo de Brémen que eram dilacerados e sofriam o ardor do sal que os protestantes colocavam nos cortes ainda frescos nas carnes abertas. Depois da tortura eram levados à forca para ali morrerem asfixiados e finalmente dilacerados estando já mortos. Poderíamos citar diversos exemplos da violência empregada pelas igrejas cristãs, mas precisamos ser objetivos.
Fiz esse pequeno apanhado histórico para compreendermos que quando Nietzsche diz em seu Zaratustra “Deus morreu” mais do que uma mera declaração de um ateu essa afirmação revela uma responsabilização da igreja cristã como um todo porque, Nietzsche não está dizendo que ele matou Deus, mas que os próprios cristãos o fizeram através de sua práxis de violência. De que morte estaria falando Nietzsche? Foram muitos os argumentos acerca dessa questão, mas hoje entende-se essa “morte” como um de-significado de Deus para a modernidade. E é isso que exatamente preocupa a igreja cristã. Ao olhar em volta ele percebe que está aos poucos perdendo força e terreno no mundo moderno mesmo que consiga manipular as mentes fracas através de sua ideologia do milagre. A destruição da igreja cristã está logo ali se não fizermos nada.
“Deus morreu” por que o cristianismo o tornou insuportável para a modernidade. O homem contemporâneo ao pensar em Deus traz a memória tudo aquilo que ele representa historicamente: morte nas Cruzadas, estupros de índias na mesoamerica por cristãos católicos, fundamentação da animalidade do negro negando sua humanidade... Todas essas coisas fazem a humanidade se questionar e indagar: Pra que precisamos ainda de Deus? Nietzsche diz em sua obra crítica “O Anticristo” coisas que nos fazem pensar o porquê de seu descontentamento com o cristianismo:

Até agora os padres reinaram! Determinaram o significado dos conceitos de “verdadeiro” e “falso”![1]
O idealista, assim como o eclesiástico, carrega todos os grandes conceitos em suas mãos (e não apenas em sua mão!); os lança com um benevolente desprezo contra o “entendimento, os “sentidos”, a “honra, o “bem viver”, a “ciência” vê tais coisas abaixo de si, como forças perniciosas e sedutoras, sobre as quais o “espírito” plana como a coisa pura em si.[2]
Todos os métodos, todos os princípios do espírito científico de hoje foram alvo, por milhares de anos, do mais profundo desprezo; caso um homem se interessasse por eles era excluído da sociedade das pessoas decentes – passava por “inimigo de Deus”, por zombador da verdade, por “possesso”. Enquanto homem da ciência, pertencia à Chandala[3].[4]

                  Nietzsche observa a história do cristianismo e responde ao homem moderno que sempre questiona a importância de Deus: Não! O homem não precisa mais de Deus. O homem precisa de si mesmo. Do Übermansh (além homem). Nietzsche desenvolve uma filosofia do ressentimento, da revolta, contra a práxis da igreja cristã desde suas origens chegando a afirmar tenazmente que “o ultimo cristão morreu numa cruz”. Para ele não houve quem conseguisse seguir os ensinos de Jesus. Sempre numa época ou outra aquela que se vê como sua portadora distanciara-se cada vez mais do propósito original de Jesus. Para Nietzsche a igreja abandonou os princípios jesuânicos de real amor e fraternidade para com o outro para se apegar ao poder político que recebeu com Constantino e dá manutenção até o presente século. Ao se aliar ao poder político-econômico de seu tempo em detrimento da práxis de amor, ao abraçar o poder mais que a doação caridosa, a igreja cristã perdeu o sentido para o mundo não sendo mais necessária, pois não sustenta mais a ideologia do Cristo, mas o da igreja.  
                Nietzsche tem a igreja cristã como um estado doentil da realidade pensativa e existencial humana. A igreja patologizou o ser transformando-o naquilo que ele mesmo denominou de “espírito de rebanho”. Os crentes são ensinados e doutrinados a serem idiotizados pela igreja e não reagirem. São disciplinados a se manterem em estado estático diante da violação que infringem ao humano. Ordena morte de pessoas, sustenta e manipula suas riquezas em Roma em prol do aparato político necessário para continuar como a maior religião do Ocidente e, ensinam aos crentes a verem tudo isso com naturalidade. E as pessoas aceitam e concordam por que foram disciplinados, segundo Nietzsche, a terem este “espírito de rebanho”. Por isso, Nietzsche desponta como uma voz de denúncia dos poderes eclesiais sobre a humanidade. Essa voz é gritante principalmente para a igreja cristã que tem Nietzsche como um destruidor da religião, porém no mesmo Anticristo Nietzsche propõe não uma aniquilação do fenômeno religioso, mas do uma dissolução do cristianismo que se mostrou uma vergonha para a humanidade.

Sem dúvida, quando uma nação está em declínio, quando sente que a crença em seu próprio futuro, sua esperança de liberdade estão se esvaindo, quando começa a enxergar a submissão como primeira necessidade e como medida de autopreservação, então precisa também modificar seu Deus.[5]   

                  Eis a solução para essa vergonha: mudar nosso conceito sobre Deus. Se o Deus que foi apresentado até aqui não satisfaz plenamente a humanidade de forma a conduzi-la a um sentimento de espiritualidade libertadora, feliz, e gratificante, ao invés de doutrinas que prometem a “liberdade de Cristo”, mas se tornam prisões mais rígidas do que aço, deve-se ir ao encontro daquele que nos prometeu a verdadeira liberdade (João 8.36). Faz-se necessária uma recuperação de Deus e do próprio conceito de igreja como eklésia, como lócus de uma comunhão que abre os olhos do ignorante para a realidade como ela é como fez Jesus. A igreja deve ser esse espaço de transformação social e não se tornar o que sempre foi: maculadora da sociedade. Prejudicadora dos homens. Não por acaso Nietzsche expressa: “O cristianismo de fato nega a igreja”.[6]
                A fim de que a igreja retorne ao seu sentido original, à proposta ética do Salvador, Nietzsche nos traça um caminho, uma esperança que faz brilhar essas densas trevas em que a igreja se perdeu: a recuperação do sentido de Reino de Deus. É no Reino de Deus que Nietzsche desempenha um papel significativo para nós cristãos. Para mim foi o único que conseguiu ler esta proposta de maneira mais sapiente.    
                A compreensão de Nietzsche sobre o “Reino de Deus” é o que podemos chamar aqui de circunstância necessária para a salvação do sentido da igreja cristã e respectivamente dela mesma. O cristianismo sofre uma crise sem precedentes na história da humanidade. Do humanismo do século XV à contemporaneidade pode-se notar de que forma vai ocorrendo o esfacelamento da religião cristã. No decorrer das épocas surge cada vez mais pensadores descontentes com a forma de se produzir religião da igreja cristã. Esse esfacelar é gradativo, consume-se paulatinamente à medida que o homem com muito cuidado e provas eficazes vão desfazendo os arcaicos ditos doutrinários da igreja sobre sua fé mórbida e política.
No parágrafo XXXIV de o Anticristo nosso revolucionário autor analisa o Reino de Deus dizendo que “nada poderia ser mais acristão (...) que um Reino de Deus vindouro, de um Reino dos Céus no além (...). Isso tudo, perdoem-me a expressão, é um soco no olho”. Nietzsche percebe no conceito de “Reino de Deus” não uma realidade metafísica, não um porvir, não uma idéia, mas uma realidade concreta que deve se manifestar no concreto. O Reino de Deus que Jesus ensinara a seus discípulos então é algo que faz parte e é existência e não essência como a igreja cristã interpretou durante todo esse tempo.  Jesus mesmo disse em Mateus 3.2 “O Reino dos Céus é chegado”. E é nesse sentido que Nietzsche esboça as seguintes palavras:

O “reino dos céus” é um estado de espírito – não algo que virá “além do mundo” ou “após a morte. (...) O “reino de deus” não é uma coisa pelo qual os homens aguardam: não teve um ontem nem terá um amanhã, não virá em um “milênio” – é uma experiência do coração, está em toda parte e não está em parte alguma...[7]   

                Em outras palavras o que Nietzsche quer dizer é que o Reino de Deus que Jesus fala não é o céu. Esta é uma feliz interpretação do conceito de Reino de Deus. Esta proposta genial de Jesus é um “estado de espírito”, ou poderíamos denominar também de ética. Essa ética não é qualquer tipo de ética, mas é a recuperação do sentido grego que confere o real significado da palavra: ética para os gregos era ethos casa comum. Essa casa constitui não uma construção de tijolos e cimento, mas do próprio ser como ser em busca de um bem viver. Nietzsche compreende essa realidade supra-ética como algo que se deve seguir, se imitar, se espelhar. O homem deve seguir tais passos para se tornar um Übermensch: os passos do Salvador. Pois, “seu legado ao homem foi um estilo de vida”.
O Reino de Deus passa a ser re-significado retornando ao sentido originário da proposta de Jesus trazendo uma profunda reflexão para a igreja cristã de hoje. Nietzsche faz a igreja questionar como tem sido sua prática diante da proposta ética de Jesus e dessa forma, tomar novas posturas distintas das antigas percebidas na antiguidade, no medievo e na contemporaneidade. A igreja a partir daí se vê como impulsionada a ir em busca de sua “pedra angular” de seu fator fundante dessa mensagem de Jesus. É a igreja saindo do mero cristianismo e se tornando igreja no autentico sentido que Jesus conferiu a esse termo.



[1] NIETZSCHE, Friedrich. O Anticristo. Parágrafo XII
[2] Ibid. Parágrafo VIII.
[3] Chandala é a casta mais baixa no sistema hindu.
[4] Ibid. Parágrafo XIII.
[5] Ibid. Páragrafo XVI.
[6] Ibid. Parágrafo XXVII.
[7] Ibid. Parágrafo XXXIV.

AFORISMO II

“Tenho todos os motivos para abandonar minha religião e um que ainda faz-me crer nela: A caridade”. Dalmo S.

VIVENDO A VIDA...







A vida corre mais do que conseguimos nos esforçar,
Nossos passos apesar de firmes são frágeis diante da realidade que nos rodeia
Por isso, tudo nos surge como estranho quando novo
Mas é no novo que nasce as mais belas experiências da vida
Ainda que as mesmas não sejam tão boas como desejamos,
Mas apenas em ter a plenitude de existir e o dom de viver
Tudo passa a valer a pena. A vida nos faz ver que vale a pena.
E isso não finda numa beleza da vida em mim mesmo,
Mas principalmente quando compartilhamos aquilo que temos
E ensinamos outrem a viver melhor do que antes.  

AFORISMO I

"O ateu fecha-se no que vê do é. O crente transcende o que vê no é. O fanático se perde num pseudo é". Dalmo Santiago.

O REGRESSO DA ALMA: NOVAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A DICOTOMIZAÇÃO DA REALIDADE EM SANTO AGOSTINHO





* Dalmo Santiago



         Este texto vem com objetivo de refletir sobre o pensamento agostiniano de forma nova desestruturando algumas compreensões errôneas acerca desse pensador influenciador de toda a Idade Média. Historicamente está situado na Antiguidade Tardia em fins do século IV e inicio do V. Partir-se-á da idéia de Regresso da Alma para destacar alguns elementos significativos do pensamento agostiniano desmistificando alguns pontos que são erroneamente compreendidos por aqueles que se detém no estudo dessa figura filosófica e teológica notável. Dessa forma, criaremos uma linha de raciocínio que finca o Regresso da Alma como norteador para as reflexões que Agostinho produziu. É importante destacar que Agostinho numa perspectiva platônica e plotinina da realidade centraliza em sua discussão a questão do regresso da alma identificando a anima como elemento do transcendente e do ideal e a corpore como situação no sensível para assim compreender melhor o que o pensador a ser refletido traz sobre a questão da espírito e da matéria.
         Agostinho reflete sobre o Regresso da Alma com bases na obra de Porfírio que se utiliza desse termo como título realizando um profundo pensamento sobre a anima e a corpore. Porém, ao analisar seu pensamento, muitos estudiosos, em sua maioria, tem confirmado a idéia de que Agostinho via na corpore o inferior, o ínfimo, e por isso um claustro para a anima. Moacyr Novaes, professor de filosofia Patristíca e Medieval da USP, parece discordar desse modo de pensar o Regresso da Alma de Agostinho. Ele afirma que o mesmo defendia que a alma sempre deve desejar voltar a seu lugar de origem. Isso seria um se libertar. Mas segundo Novaes, ele nunca condenou a natureza corpórea nem mesmo a entendia como claustro da alma ou natureza má. Nisso concordo com Novaes.
         O pensamento agostiniano abre um novo sentido da compreensão de Regresso da Alma que não estava claro ainda. Ele contribui para a filosofia quando afirma que para que o homem consiga encontrar a verdade de forma filosófica é necessário que não haja um desprestigiar nem da alma nem do corpo, nem da idéia, nem da matéria, mas uma síntese entre ambas. Esse pensamento rompe com a idéia de que a priori a alma deveria ser purificada do corpo para obter o conhecimento acerca da verdade. Para se conhecer o que é verdadeiro era necessária essa síntese que ia contra a opinião maniqueísta. 
         Para os maniqueístas o pensamento humano deveria considerar as coisas ínfimas, inferiores da realidade para a obtenção do conhecimento verdadeiro. Isso seria um limitar-se a inferioridade do corpo e da matéria. Agostinho afirmando a síntese já dita se posiciona contra o maniqueísmo possibilitando um conhecimento mais eficaz já que o mundo sensível é sombra, imagem do inteligível e, compreendendo ambos os mundos se teria uma visão mais ampla e detalhada sobre as coisas, adquirindo assim um conhecimento melhor e eficaz possibilitando um alcançar da verdade. 
         A idéia de dicotomização antitética da realidade é ainda presente no pensamento agostiniano, segundo as estruturas basilares do platonismo, isso não se pode negar. Agostinho aceitava a idéia de que a realidade concreta, o mundo sensível de Platão, era a sombra das coisas inteligíveis, do céu. Porém, isso não deve ser levado a uma compreensão de negação do corpo ou da existência como na maioria das vezes se refere a ele.       É claro que isso vai trazer conseqüências no aspecto moral da época onde está inserido.
         É na Idade Média que os escritos de Santo Agostinho terão seu receptáculo maior. A Igreja passou a desenvolver todo um sistema de leis morais e éticas fundamentado na filosofia agostiniana. Produzindo uma leitura errônea de seus textos a Igreja passa a ser negadora de toda a realidade existente na concretude valorando o além mais que o aqui. Isso fez com que, a partir dessa compreensão, a igreja cristã fosse se distanciando do mundo e se desresponsabilizando. Aos poucos isso foi ocasionando na alienação da mesma, pois, a Igreja passou a se preocupar com coisas supraterrestres e não com a realidade humana. 
         Isso claro influi no modo de se produzir ética na Igreja já que a mesma irá, através da dicotomização antitética entre corpo e alma, estabelecer uma ética anti-corpo, anti-prazer. O corpo passa a ser considerado o lócus do mal ontológico. É nele que se possui a fraqueza do pecar, do agir segundo as paixões, voltando-se aos vícios. Por isso se prega uma vida de castidade, de pureza espiritual voltada a uma sublimação dos desejos, àquela sublimação freudiana. Negando os desejos o ser humano nega sua humanidade, seus instintos como Nietzsche falara em seu O Anticristo. Isso gera um problema no Mundo Ocidental: a alienação patológica.
         Creio ser necessário trazer uma reflexão nova sobre Agostinho que aclarareará acerca de seu pensamento sobre corpo e alma. Agostinho não defende que o corpo é lócus do mal, mas que ao se inclinar mais ao corpo, à carne, o homem se deixa levar unicamente pelas paixões, o que faria com que o mesmo fosse prejudicado. O bispo de Hipona cria uma síntese entre esses dois elementos, idéia e matéria, antes antagônicos. Sintetizando esses elementos obtém-se uma compreensão mais holística das coisas e da própria vida. O que penso é que a partir daí que devemos encontrar uma solução para a problemática da perspectiva fechada da moralidade cristã. 
         Pensando na visão agostiniana, no que se refere a uma síntese do que é inferior ao superior, podemos raciocinar um novo modelo de ética em Agostinho. A vida conflui não em uma perspectiva monolítica, mas pluralista, e aqui poderia dizer mais resumidamente dual. A vida é repleta de significações conceituais acerca de tudo. Não quero debater no momento se as conceituações são formas leais de se compreender a natureza das coisas como Nietzsche negou em sua filosofia. Essas significações surgem numa dicotomização do tudo: bem-mal, belo-feio, alto-baixo, largo-curto etc. Viver a vida escolhendo apenas um dos lados dessa dicotomia, afirmando ser essa a forma verdadeira de se viver, é fechar-se num entendimento incompleto da vida. É ver a vida e vivê-la apenas por um lado não percebendo as demais outras coisas que fazem parte desta e lhe conferem sentido. Agostinho não concordava com isso.
         Para o Agostinho as coisas que se entende como desprezíveis são importantes para poder ser entender as coisas perfeitas já que tudo é produto do intelecto criativo de Deus. Seria interessante nós abordarmos aqui sobre o texto de Isaías 45:7 que diz: “Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas”. Se Deus é criador de todas as coisas e também do mal então nasce uma nova moral distinta da cristã eclesial, não mais da negação dos paradoxismos considerados negativos, mas da aceitação. Já que Deus é o criador de todas as coisas e também do mal, para poder se chegar a ele, de quem verdadeiramente ele é, torna-se preciso que haja uma aceitação daquilo que antes se entendia por desprezível: mal, feio, curto etc. Assim até mesmo as significações mudam e passam a não mais serem consideradas inferiores, mas tão necessárias quanto aquelas aceitas como superiores.  
         Esse pensamento seria uma forma de perceber a vida em sua totalidade, em sua complexidade e pluralidade. Não há uma mistura de mal e bem, mas uma necessária e indissociável relação entre ambos. Isso é do humano, é ele quem convive com esses paradoxismos existenciais e diante deles deve tomar alguma posição. Porém nunca deve haver uma exagerada inclinação a uma realidade mais que outra. Buscar o equilíbrio, no sentido aristotélico da palavra, deixando-se ser levado a experiência dessa dicotomização à medida considerável de cada realidade, é a atitude mais coerente para o conhecimento mais próximo, ou por que não dizer real das coisas e do próprio sentido de viver um bom viver.